Fim da linha para Doria

Doria se rende às pressões dos líderes do PSDB e desiste da corrida presidencial

Bruno Rodrigues

O dia 23 de maio, umbilicalmente ligado à Revolução Constitucionalista em 1932, teve um gosto amargo para o ex-governador de São Paulo João Doria (PSDB) 90 anos depois. A data foi marcada pelo anúncio da desistência de sua candidatura à Presidência da República. Por pressão de líderes do partido, a retirada de seu nome da corrida ao Planalto foi consumada. Isso se deu para que a sigla tucana possa apoiar uma candidatura única da chamada 3ª via para se opor à polarização Lula-Bolsonaro. Durante o discurso, Doria, claramente desolado, desferiu: “me retiro da disputa com o coração ferido, mas com alma leve”. Ele relembrou sua trajetória na política à frente em São Paulo e declarou apoio a seu ex-vice governador Rodrigo Garcia (PSDB) para a permanência à frente do estado paulista.

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Trajetória controversa

Doria iniciou seu percurso político como prefeito de São Paulo em 2017, vencendo Fernando Haddad (PT) ainda no primeiro turno. Apesar da promessa de não abandonar a prefeitura, ele deixou a administração municipal na metade para concorrer ao Governo do Estado. Duro com as palavras, teve problemas internos no partido, como no caso da discussão com o ex-governador de São Paulo, Alberto Goldman, em que ele chama o falecido tucano de fracassado. Em 2018, João Doria surfou na onda bolsonarista e assumiu o Palácio dos Bandeirantes com a marca “Bolsodoria”.

  Chocante desfecho

Esse casamento foi definhando e chegou ao divórcio em 2020, na pandemia da Covid-19. O atual presidente se mostrou um contumaz adversário da vacina, enquanto Doria se apressou a liberá-las o quanto antes à população. E assim fez. Com a primeira aplicação da Coronavac/Butantan tornou-se, naquele momento, um herói nacional. O tiro talvez fora dado muito antes da linha da chegada. Com as demais opções Pfizer, Janssen e Atrazeneca/Oxford tidas como mais eficazes, a vacina de Doria perdeu força e popularidade. Pior, Doria foi um ferrenho aplicador do “fique em casa”, respeitando as orientações do impopular distanciamento social. A conta chegou. Com a proximidade do fim da pandemia, os comerciantes que não puderam exercer seus trabalhos, não esqueceram da decisão do então governador. E mais, naquele período ele foi visto em Miami endossando a ideia de que ele havia trancado o estado e desfrutado de um local que não foi fechado: o estado da Flórida, nos Estados Unidos. Com todo esse pacote negativo, as pesquisas não foram generosas com Doria. Somada à pressão do partido, só restou ao tucano deixar a corrida presidencial. Chocante desfecho.